Roteiro dos Bandeirantes
Casa do Bandeirante





História
Praça Monteiro Lobato – Butantã, São Paulo – SP, 05506-030
[1] A Casa do Bandeirante representa um dos exemplares típicos das habitações rurais paulistas construídas entre os séculos 17 e 18 em vasta área periférica ao núcleo urbano primitivo, localizadas predominantemente junto à bacia de dois rios: o Tietê e o seu afluente Pinheiros.Neste conjunto remanescente, identificado a partir da década de 30 em princípio por Mário de Andrade e depois por Luís Saia, esta casa representa um raro exemplar de edificação que acompanha as mudanças da cidade de São Paulo desde os primeiros séculos da colonização portuguesa, evidenciando em seu partido arquitetônico e em suas paredes a memória dos processos construtivos da arquitetura colonial paulista, em especial da taipa de pilão.
A história do Butantã, região onde a casa se encontra, remonta ao ano de 1566, quando foi concedida uma sesmaria a Jorge Moreira e Garcia Rodrigues, na paragem conhecida como Uvatantan. Em 1602 há registros dessa propriedade como pertencente a Afonso Sardinha, com o nome de Ubatatá, termo tupi que significa “terra dura”. Posteriormente foi feita a doação de seus bens à Capela de Nossa Senhora das Graças da ordem dos jesuítas.
Com a expulsão dos jesuítas em 1759, a área foi a leilão e pertenceu a vários proprietários, tendo sido adquirida por Eugênio Vieira de Medeiros em 1875, sendo conhecida na época com o nome de “Rio Abaixo dos Pinheiros”. A Cia. City de São Paulo, comprou o imóvel em 1912 e doou à municipalidade, em 1944, a área que incluía a edificação conhecida então como a “Casa Velha do Butantã”. Após a doação o imóvel permaneceu sem definição de uso até o início dos anos 50.
Em 1953, a Comissão do IV Centenário de São Paulo torna-se responsável pela casa promovendo sua restauração, realizada pelo arquiteto Luis Saia e nela instalando a partir de 30 de outubro de 1955, um museu evocativo da época das bandeiras, com acervo próprio, a partir do recolhimento de móveis, utensílios e outros objetos históricos no interior de São Paulo, Minas Gerais e Vale do Paraíba. Acumulando simbolicamente ao longo dos anos identidades diversas, a Casa do Bandeirante está incluída, em caráter permanente, nos roteiros turístico-históricos da cidade, ícone de um passado histórico idealizado, espaço de crítica e contextualização de mitos e documento arquitetônico preservado.
Citação
Segundo Santos (2016, p. 12) [2], “A construção simbólica da Casa do Bandeirante como espaço museológico dedicado ao enaltecimento dos sertanistas paulistas do período colonial foi um dos principais projetos das comemorações do IV Centenário da Cidade de São Paulo. Para a sua definição curatorial, formação de acervos e concepção de exposições, diversos agentes atuaram a partir de suas conexões intelectuais e políticas, desde a decisão de restaurar a velha casa de taipa doada à municipalidade pela Companhia City, até as exposições da década de 1970, período em que o mito bandeirante foi intensamente debatido na sociedade e sua concepção enaltecedora inicial foi revista. Tais agentes estabeleceram parcerias, fizeram escolhas e elaboraram discursos afirmativos que permitiram à Casa do Bandeirante constituir-se como o primeiro museu municipal de São Paulo, com grande repercussão desde a sua inauguração em 1955”.
Novamente de acordo com Santos (2016, p. 15) [2], “A Casa do Bandeirante deveria representar, segundo a interação e seus instituidores, um dos exemplares típicos das habitações rurais paulistas construídas entre os séculos XVII e XVIII,período que corresponde à época áurea das bandeiras. Situada fora do centro financeiro e funcional da cidade, sua manutenção não impedia a renovação e o “progresso” da cidade, podendo ser tomada como uma evocação do passado a partir da condição de moradia fidalga, capaz de dar a São Paulo a possibilidade de celebrar também aqui o mito da “casa grande”, locus das elites rurais celebrado na obra impactante de Gilberto Freyre, “Casa Grande e Senzala”, de 1933”.
Semelhantemente segundo Santos (2016, p. 254) [2]. “A Casa do Bandeirante foi pensada como “museu vivo”, conceito reafirmado constantemente na documentação oficial gerada a partir de sua concepção. A partir de 1956, após o decreto que a instituiu como o primeiro museu municipal de São Paulo, Paulo Florençano deu continuidade a seu planejamento para que a Casa do Bandeirante se tornasse um espaço de divulgação do passado paulista”.
De acordo com Mayumi (2017, p.81) [3], “A Casa do Butantã, mais conhecida como Casa do Bandeirante, foi restaurada em 1954-55, pela Comissão do IV Centenário da Cidade de São Paulo. O projeto de restauração e a orientação técnica ficaram sob a responsabilidade de Luís Saia, então chefe do distrito do Iphan em São Paulo. Foi a primeira das casas bandeiristas da Prefeitura de São Paulo a ser restaurada. Naquela intervenção, a abordagem do edifício foi idêntica à das demais obras que o Iphan havia realizado em casas bandeiristas. A intervenção inaugurou o ciclo de restaurações de casas bandeiristas de propriedade da Prefeitura de São Paulo, e estabeleceu o modelo de intervenção nesses exemplares. Doada pela Companhia City à Prefeitura em 20 de outubro de 1950, a casa estava invadida desde 1951 por várias famílias, que ocuparam a casa até o início das obras de restauração em 1954. Germano Graeser, contratado pela Comissão do IV Centenário, registrou o estado do edifício em março de 1954”.
Mayumi (2017, p. 85) [3], “O partido adotado para a intervenção na Casa do Butantã, alicerçado sobre as bases teóricas estabelecidas por Saia em 1944, orientou-se para a recuperação da feição mais primitiva conhecida do edifício. O conceito técnico da intervenção também já estava definido preliminarmente, qual seja: primeiro providenciar a consolidação estrutural do edifício; depois, restaurá-lo. A primeira etapa da intervenção foi voltada à consolidação, que se sobrepunha à investigação do edifício em busca de vestígios que orientassem a recomposição da configuração mais antiga. Essa investigação, embora tivesse caráter arqueológico, pretendia exclusivamente encontrar os vestígios mais primitivos, ignorando e descartando vestígios de épocas intermediárias entre o imaginado “primitivo” e o presente visível”.
Referências
[1] CASA Do Bandeirante (Butantã) | MCSP. 2022. Disponível em: https://www.museudacidade.prefeitura.sp.gov.br/sobremcsp/casa-do-bandeirante/. Acesso em: 29 ago. 2022.
[2] SANTOS, Andréa Maria Zabrieszach Afonso dos. A Casa do Bandeirante como espaço museológico (1954-1964). 2016.
Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.
Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/103/103131/tde25102016105146/publico/AndreaMariaZabrieszachAfonsodosSantosREVISADA.pdf. Acesso em: 29 ago. 2022.
[3] MAYUMI, Lia. Restauração de casas bandeiristas: experimentações e permanência. Revista Cpc, n. 22, p. 62-114, 2017.
Disponível em: https://www.revistas.usp.br/cpc/article/view/122248/127827. Acesso em 29 ago 2022.
Materiais completares
[1] CASA Do Bandeirante (Butantã) | MCSP. 2022. Disponível em:
https://www.museudacidade.prefeitura.sp.gov.br/sobremcsp/casa-do-bandeirante/.
[2] SANTOS, Andréa Maria Zabrieszach Afonso dos. A Casa do Bandeirante como espaço museológico (1954-1964). 2016.
Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/103/103131/tde25102016-105146/publico/AndreaMariaZabrieszachAfonsodosSantosREVISADA.pdf.
[3] MAYUMI, Lia. Restauração de casas bandeiristas: experimentações e permanência. Revista Cpc, n. 22, p. 62-114, 2017.
Disponível em: https://www.revistas.usp.br/cpc/article/view/122248/127827.
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